quarta-feira, 9 de julho de 2008

• A estranha •


Tomou um banho quente ao máximo, deixou a água do chuveiro rolar por todo o seu corpo trazendo um calor que a acalmava mais do que realmente a aquecia.
Passou um tempo indeterminável ali, mas sabia que era já hora de sair para o ar frio que logo pairaria dentro do banheiro.
Ao menos tinha conseguido se manter dentro da neutralidade de não pensar em nada por algum tempo, tinha se permitido apenas estar ali.
Fechou o chuveiro, abriu um pequeno vão no box apenas para alcançar sua toalha, se secou rapidamente e logo depois se enrolou na toalha e saiu do cubículo em que estava. Ficou alguns segundos de frente para o espelho ainda embaçado pelo calor da água, viu sua imagem distorcida e de alguma forma aquilo a encantou.
Mais uma vez perdeu a noção do tempo parada ali, semi nua, em frente ao espelho. Com uma mão esfregou o espelho embaçado, e isso fez com que surgisse uma nova imagem ali, a sua própria imagem, sem distorções, apenas como ela realmente era.
A estranha ! Havia uma estranha refletida ali ! Quem era aquela que a mirava como se fosse seu reflexo porém irreconhecível ?
Ela se tocou, passou os dedos em cada centímetro de sua face, a mesma face da estranha que visualizava; afinal de contas quem era ela ?
Ficou confusa, já não sabia mais quem era a real. Já não sabia se àquela que sempre tinha visto refletida era a verdadeira ou se na verdade esta que via agora tinha sido ocultada todo este tempo embora fosse total sua autenticidade.

As pessoas são capazes de criarem sua própria visão de si. Se esta visão é verdadeira ou falsa ? Ela não é nenhuma das duas, é apenas como vemos nossas qualidades e defeitos em um determinado momento... Por fim todas somos nós, pq fomos nós que as criamos.

domingo, 6 de julho de 2008

• Paris •


Pela janela ela via a torre Eiffel iluminada ao longe....

Visão nostalgica de um ano qualquer, um ano do qual nem ao menos quisera se lembrar !

A respiração se condensava com o ar gelado que entrava pela abertura na qual olhava seu mundo, tão restrito, tão maravilhoso, muito dolorido para ser repensado !

Seus pensamentos tomaram forma e uma frase surgiu:

- Essas luzes não são lindas ?

O homem nu na sua cama nem ao menos se deu o trabalho de responder, a rejeitou por completo.

Ela não esperava respostas, não precisava de comentários.

Olhou mais intensamente pela janela, e se deixou levar por pensamentos irreais, planos que nunca seriam concretizados, desejos latentes.

Quando voltou à sua realidade, ainda nua, se virou para aquele ser jogado em sua cama; como sempre jogou as mesmas palavras:

- Seu tempo acabou, por favor deixe o dinheiro na cama mesmo.


Mais um deles se foi, mais um qualquer para quem se doou em troca de dinheiro, mais um que levou uma parte dela. Até quando será que ela ainda teria algo para ofertar ? Qual seria o limite de sua existência ?

Apoiou-se naquela janela que se tornara seu quadro da perfeição.

Ao menos ela ainda tinha as luzes...

Ao menos ela ainda tinha sua Paris !